Debate – ainda que pueril – sobre características do presidente brasileiro supostamente alinhadas ao movimento surgido na Itália de Benito Mussolini ganhou as ruas e as redes sociais de forma mais intensa nas últimas semanas, embora boa parte dos que se declaram “antifas” sequer saiba explicar o contexto histórico daquilo que combatem
Ensaio
Os termos “antifas” e “antifascistas” viraram memes de internet no Brasil nas últimas semanas, com banners, flyer’s e templates usados em profusão por políticos, intelectuais, artistas, jornalistas e uma massa de seguidores nas principais redes sociais do Brasil.
O movimento – que tem como alvo principal o governo Jair Bolsonaro – é forte, embora pueril e reducionista na discussão sobre o conceito do fascismo histórico e sua influência no mundo na primeira metade do século XX.
Mesmo com seu aparente vazio ideológico, Jair Bolsonaro vem sendo taxado de fascista desde as eleições de 2018. Mas, se há vazio ideológico em Bolsonaro, como ele pode ser apontado como fascista?
Em “Liderança Democrática e manipulação de Massas”, o sociólogo alemão Teodore Adorno (1903/1969) inicia essa resposta.
Basta relacionar seu pensamento à eleição do presidente, em 2018.
– Consideremos a surpreendente ingenuidade política de um grande número de pessoas – de nenhum modo apenas as sem-educação. Os programas, plataformas e slogans [autoritários] são aceitos pelo seu valor de face; julgados pelo que parece ser seu mérito imediato – afirma Adorno. (Saiba mais aqui)
A visão do intelectual alemão – que também tratou dos regimes totalitários na primeira metade do século XX, responderia uma primeira questão, também já abordada em diversos artigos neste blog: a vitória eleitoral proto-democrática de Bolsonaro.
Mas continuaria a dúvida: os aspectos de sua vitória em 2018 faz de Bolsonaro um fascista?
Essa dúvida se dá por causa da banalização da própria palavra “fascista”.
– Por exemplo, tornou-se banal chamar de fascistas pessoas que cometeram atos machistas, racistas, e até mesmo moral, política e economicamente ilícitos, todavia não menos criticáveis. Como podemos ver, o atual e indevido uso do conceito fascismo implica injustiça – critica o filósofo e pesquisador em economia política da Universidade federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), Rafael Silva. (Leia mais aqui)
Bolsonaro é machista, racista, politica e moralmente ilícito.
Mas seria ele fascista?
Melhor do que qualquer outro, é deixar a filósofa alemã Hannah Arendt (1906/1975), que sofreu, conviveu e combateu o totalitarismo, sintetizar a definição de um fascista.
– Num dado sistema governamental o qual uma minoria lunática se instala, ocupando-se tanto de cargos políticos quanto tomando conta das referências morais e intelectuais, juízos morais tomam interpretações irrefletidas e disformes. (…) diligenciando-se a fixar seus próprios métodos, teses e pensamentos, supostamente superiores intelectualmente. Desta forma, desfigura-se as noções de valores morais, delimita-se o pensamento vigente, depaupera-se a cultura e deforma-se o caráter dos indivíduos em tropel – escreveu Arendt, em “A Condição Humana”.
Detalhe: Arendt nem considerava o fascismo italiano como totalitarista, mas apenas o nazismo alemão e o stalinismo russo. (Entenda aqui)
Diante do exposto, se dúvida houver quanto ao fascismo de Bolsonaro, responde-se com a atual e moderna conceituação acadêmica.
– O Fascismo é uma ideologia de culto à violência, anticomunista, contrária aos movimentos de modernização e democratização dos costumes e da sociedade – explica o professor Titular de Ciência Política da Universidade Estadual de Campinas, Armando Boito Júnior. (Leia a íntegra aqui)
Bolsonaro é anticomunista, resiste à democratização e modernização da sociedade brasileira, prega a violência, buscando armar a população, pregando o ódio.
Não há dúvida, portanto, de que Bolsonaro seja um fascista…