Juízes e promotores que se beneficiam direta ou indiretamente do governo – e ainda exibem propaganda de suas relações com o governo – levam o cidadão a perder a referência de Justiça; e nem o mais arraigado corporativismo é capaz de defender algo assim
Editorial
Vem o escândalo do “aluguel camarada” de uma clínica que já custou mais de R$ 2 milhões aos cofres públicos maranhenses e descobre-se que, entre as sócias dessa clínica, está uma juíza de Direito, irmã de uma assessora jurídica da secretaria que alugou o prédio.
Descobre-se mais: o marido da juíza é um promotor-assessor do procurador-geral de Justiça.
Só este fato levaria, no mínimo, a uma investigação da Corregedoria de Justiça ou da Corregedoria do Ministério Público.
Ao menos para esclarecer a opinião pública.
Mas o que fazer quando se descobre que o corregedor-geral de Justiça tem, ele próprio, um imóvel alugado para o governo?
E o preço é sempre alto para quem tem a coragem de apontar equívocos e desvios do Judiciário e do Ministério Público maranhense.
Associações corporativas odeiam isso; Juízes e promotores odeiam isso. E são várias as tentativas de intimidação.
Mas mesmo com a venda nos olhos do corporativismo e da intimidação associativista, não há como deixar de enxergar inúmeras histórias de parentes de membros do Judiciário nomeados em postos no mesmo governo que esses membros deveriam, no mínimo, olhar com independência.
É uma promiscuidade que se espalha por todas as instâncias políticas – de gabinetes de deputados a secretarias de estado, passando por Câmaras Municipais e prefeituras.
Quando juízes e promotores fazem negócios com o governo, o cidadão perde a referência da Justiça que deveria ter clara em sua vida.
E essas práticas, nenhuma intimidação corporativista vai poder esconder…