Por Poliana Silva Gatinho*
Hoje (ontem, terça-feira, 11) foi a inauguração do Centro de Referência especializado para pessoas com TEA (CER TEA). Faz meses que aguardo ansiosamente esse dia, por que pensei em levar algumas dúvidas minhas e de muitas mães Maranhão a fora que clamam por políticas públicas que realmente contemplem a necessidade de nossos filhos.
O cerimonial do governador no alto de sua arrogância não me deixou falar, porque políticos tem dessas coisas. Em tempo de eleição entram em nossas casas, tomam nosso café, mufam nossa farinha, nos ouvem atentamente entre abraços e declarações de amor. Quando ganham ficam inacessíveis, blindam- se no cargo que ocupam temporariamente e deixam de ouvir uma mãe que tem direito legítimo de expor seus anseios.
As políticas existem para as pessoas e não adianta fazer cerimônia cheia de autoridades, se não se ouve quem mais tem autoridade no assunto para falar: nós mães que estamos dia a dia na luta, nos dando as mãos, tentando nos ajudar mutuamente enquanto os políticos e toda a sociedade dá um tapinha nas nossas costas, chama de mãe azul, mãe guerreira , heroína e afins e se vai, como se realmente tivéssemos o super poder de conseguir tudo que nossos filhos precisam.
Não, sociedade, não somos heroínas.
Somos mães que lutam todos os dias para termos direitos básicos de nossos filhos respeitados, como o acesso a escola regular, as terapias adequadas e até mesmo o direito de ir e vir que muitas vezes nos é retirado por não conseguirmos sair de casa devido aos comportamentos que eles podem apresentar nos locais e sermos “gentilmente” convidadas a nos retirar por que os nossos filhos atrapalham.
Governador Flávio Dino, prédios bonitos e equipados são necessários, mas precisamos de transparência nessa fila que ninguém sabe onde está. Precisamos de investimento em capacitação não apenas do ponto de vista clínico, mas também nas escolas e por todo o Maranhão. Precisamos de capacitação para pais e familiares por todo o Maranhão. Eles passam mais tempo com o autista e se receberem a orientação adequada poderão melhorar muito a qualidade de vida de seus filhos.
Conheço casos de autistas no interior do Maranhão que tomam 5 remédios associados e estão fora da sala de aula porque não param de correr, a médio e longo prazo. Essa superdosagem de remédios poderá acarretar outras coisas.
Precisamos de atendimento sem restrição de idade. Os autistas crescem e não podem ficar isolados em casa.
Os governantes precisam entender que tem que ouvir as pessoas, não só quando estão precisando de votos, mas principalmente para elaborar políticas efetivas para quem precisa. Faltou humildade hoje para o governador do Maranhão e seu cerimonial em dar oportunidade a uma mãe que luta todos os dias para melhorar o mundo em que seu filho vive representando muitas mães com os mesmos anseios.
Não sou política, não quero ser famosa, não usaria nunca a necessidade do meu filho para fins próprios.
Desde que João nasceu eu disse a ele que esse mundo era legal, era bom, que tinham dificuldades, claro, mas que ia fazer tudo que fosse possível e até mesmo o impossível pra ele crescer num mundo mais justo e digno, e é isso que farei até enquanto eu respirar.
Não nasci pra jogar confetes em ninguém.
Eu sou uma cidadã consciente dos meus direitos e os do João e sei lutar por eles acima de qualquer bandeira política. Continuarei buscando, questionando ao mesmo tempo que me ponho à disposição para ajudar em tudo que for necessário para que os autistas no Maranhão tenham de fato todas as políticas públicas que tanto necessitam.
Parabéns ao governo pela entrega do CER TEA.
É um início importante. Seguimos na luta…
*Mãe do João Lucas, autista, 3 anos de idade
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