Baseado em estudos de especialistas e ações governamentais, desde o dia 3 de fevereiro, quando o Ministério da Saúde publicou portaria com “alerta de emergência”, blog Marco Aurélio D’Eça traçou a linha do tempo da chegada da pandemia ao Brasil, agora que já se sabe que o vírus circulava no país desde janeiro, segundo estudo da FioCruz
Eram assim que estavam as ruas do Rio de Janeiro durante o carnaval 2020, mesmo com o alerta de emergência contra o coronavírus
Reportagem especial
3 de fevereiro de 2020. O então ministro da Saúde, Henrique Mandetta, publica a Portaria nº 188/2020, que declara a “Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional”, diante da gravidade do avanço do coronavírus. (Veja aqui)
O alerta foi encaminhado a governadores, autoridades privadas de saúde e especialistas; também foi criado o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE-nCoV), mecanismo nacional para atuar no combate ao vírus.
Em outras palavras: todos os que deveriam já sabiam dos riscos do coronavírus.
Faltavam exatos 20 dias para o carnaval.
5 de fevereiro de 2020. A rede britânica BBC publica em sua edição brasileira post com a seguinte pergunta: “Coronavírus deve cancelar o Carnaval e outros eventos que atraem multidões?”.
No longo texto, o site ressalta a força do contágio do vírus, dá voz a especialistas e autoridades sobre os riscos de proliferação da coVID-19, cita estudos e ressalta:
– No caso do Carnaval, a grande aglomeração de pessoas num espaço reduzido, inclusive trocando abraços e beijos, acaba por facilitar o alastramento de qualquer doença. (Leia a íntegra da reportagem aqui)
Faltavam 15 dias para o início do carnaval.
Já próximo do feriado da folia momesca, a Fundação Arthur Bernardes publicou entrevista com o professor Sérgio Paula, do Laboratório de Imunovirologia Molecular do Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Objetivo: saber até que ponto as pessoas deveriam se preocupar com o coronavírus durante o carnaval.
O professor-doutor afirmou a reportagem da Funarbe que a preocupação deveria se dar com “outros vírus e bactérias”.
– A transmissão vai ser mais comum e eficaz em países temperados. Por causa do frio, a tendência de condensação populacional é muito grande. Elas ficam mais em locais fechados e com contato mais próximo. Entretanto, mais cedo ou mais tarde ele vai chegar aqui, mas será um caso importado de alguém – estabeleceu de Paula.
E começou o Carnaval.
O ministro Henrique Mandetta editou o “”alerta de emergência”, mas ele próprio disse não haver preocupação com o carnaval
26 de fevereiro de 2020. O mesmo Henrique Mandetta que editou a “Declaração de Emergência de Importância Nacional” afirma, em reportagem do UOL, que sua preocupação era mais com as pessoas em viagem do que com o carnaval.
– A nossa preocupação sempre foi as pessoas saírem do Brasil, porque aqui as pessoas estão dentro de um bioma em equilíbrio – afirmou o então ministro. (Leia aqui)
E o carnaval 2020 passou…
Parte II
Cenário no Maranhão: Folia, festa e “nem aí!”
Flávio Dino curte a folia momesca no Centro Histórico de São Luís, em meio a multidão de foliões; e o vírus já circulava por aí..
No Maranhão, a preocupação com o vírus sequer existia.
A grande discussão no estado – sobretudo na capital, São Luís – era especular sobre o sucesso ou fracasso do carnaval promovido pelo poder público.
3 de fevereiro de 2020. O secretário de Saúde do Maranhão, advogado Carlos Eduardo Lula, publica artigo no Jornal Pequeno – reproduzido pelo site do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass) – em que ironiza o pânico com o coronavírus e minimiza os riscos de infecção e de letalidade da coVID-19.
– Quando o carnaval chegar, não precisamos fugir para as montanhas, comprar roupa de astronauta, construir uma casa no subsolo ou nunca mais sair de casa. O coronavírus não nos renderá um apocalipse, mas toda a preocupação em torno da doença poderia nos lembrar de nossas tragédias cotidianas que teimamos em não solucionar – afirmou Lula. (Leia o artigo aqui)
E o Maranhão se prepara para o carnaval.
7 de fevereiro de 2020. A infectologista maranhense Maria dos Remédios Branco, professora-doutora da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), declarou ao site “Nossa Ciência” não haver motivo para pânico no Brasil com o coronavírus.
– Aparentemente, a gente não teria preocupação com essa doença no carnaval. Aparentemente não se está numa situação, ainda, de se preocupar nesse nível. Mas a gente tem que lembrar da prevenção. E a prevenção desse coronavírus é muito relacionada a hábitos básicos de higiene, que a gente deveria ter em qualquer situação, independente de ter coronavírus – declarou a médica. (Leia aqui a íntegra da entrevista)
O carnaval estava a 13 dias de começar.
23 de fevereiro de 2020. O governador Flávio Dino publica artigo no site do PCdoB – ilustrado com foto do governador abraçado a foliões em meio à multidão em São Luís – em que celebra a folia momesca no Maranhão.
– As milhares de pessoas que lotaram o nosso pré-carnaval anunciaram o sucesso que temos visto no Carnaval do Maranhão 2020, consolidando-se como umas das maiores festas do país, a cada ano com maior participação popular – comemora o governador.
Carnaval era festa, folia e alegria no Brasil.
Quase três meses após o carnaval é o coronavírus quem faz a sua festa, destruindo famílias, que não podem, sequer, se despedir de seus entes mortos pela coVID-19
12 de maio de 2020. Estudo da Fundação Oswaldo Cruz, publicado no site da instituição, confirma que o coronavírus chegou ao Brasil quatro semanas antes do carnaval, o que descarta o italiano contaminado em São Paulo como a primeira vítima no país.
– O novo coronavírus começou a se espalhar no Brasil por volta da primeira semana de fevereiro. Mais de 20 dias antes do primeiro caso ser diagnosticado em um viajante que retornou da Itália, em 26 de fevereiro, e quase 40 dias antes das primeiras confirmações oficiais de transmissão comunitária, em 13 de março – afirma o estudo, publicado também no blog Marco Aurélio D’Eça. (Reveja aqui)
Esta linha do tempo mostra que a disseminação do coronavírus pelo país ganhou força com a pouca importância dada pelas autoridades de saúde.
E confirma que o carnaval foi, sim, foco de contaminação.
E não há o que discutir quanto a isso…
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