O blog republica como post o debate que teve na área de comentários do post “O Brasil já está sob tutela militar…”, com o leitor Emanoel de Jesus, para quem a ideia de liberdade tem a ver com “os ensinamentos dos velhos sargentos”
Primeiro o comentário do leitor:
Há amigo marcos! Trocaria eu tudo em que confio nessa tal “liberdade” que vcs falam. Que que isso? Que há tempos não veio por aqui; pra ser mais exato, há 52 anos que tenho vivido e não sei dessa tal liberdade.
Se ela existir deve ser só para os políticos e apadrinhados dos mesmos, porque para o povo a escravidão continua.
Dá ânsia de ver essas quadrilhas de bandidos se aposentando das riquezas do nosso país, desviando dinheiro e mais dinheiro, mais até do que podem gastar, pois quardam em apartamentos buracos e sabe-se lá mais onde.
As escolas abandonadas. As públicas no caso. Os pobres sendo alimentados com migalhas. Restos onde muitos tem provisões, mas não há empregos. As empresas do Estado deixam muitos capacitados para dar lugar a apadrinhados dos políticos que muitos nem vão por lá, só recebem o dinheiro final de mês.
Isso sem falar dos jovens morrendo todos os dias, os bons e os maus, não há distinção. Que liberdade é essa?
Acho que essa liberdade tanto falada que tão com medo de acabar é a dos bandidos. Ladrões, corruptos e mais, pois somente eles durante a minha vida toda eu vi fazendo o que queriam.
Realmente, eu quero que acabe essa liberdade. Eu ainda espero ver nos meus dias de vida o trabalhador sendo remunerado de maneira justa, o empresário correto tendo a ajuda certa pra poder pagar suas contas. O filho, o pai, a mãe, a família sendo respeitada como nos velhos tempos em que meu avô relatava os ensinos dos velhos sargentos.
Se for assim eu quero, espero e do torcendo pra que essa tal liberdade acabe…
Agora, a resposta ao que ele entende por liberdade:
Até o fato de muitos “loucos” estarem hoje defendendo que um outro louco assuma o comando do país, é resultado da liberdade democrática em que vivemos.
Acusar o PT de corrupção, apontar que nele só tenha corruptos, também é resultado desta liberdade de expressão em que vivemos.
Liberdade que perdemos por 21 anos (entre 1964 e 1985) quando os militares – por intermédio de um golpe – cassaram os direitos dos cidadãos.
Claro, é verdade que há muitos que viveram nos tempos da Ditadura e dizem que “não foi tão ruim assim”.
Mas basta analisar a vida destes para se saber porque pensam assim: são sempre os que baixaram a cabeça para os militares, que aceitavam caladinhos toda a opressão que os militares impuseram a todos os cidadãos.
Esses que seguiram caladinhos, faziam a ordem unida exigida, evitavam contrariar os militares, não questionavam sequer a própria vida.
É claro que esses não sentiram os efeitos, porque, também, não lutavam contra as injustiças.
E quando viam um vizinho apanhar dos militares, ao invés de denunciar, botavam a culpa no vizinho, que era chamado – você lembra? – subversivos.
Os militares também desviavam dinheiro a torto e a direito. Muitos enriqueceram às custas da Ditadura.
A Odebrecht, a Mendes Júnior, as empresas todas que você vê hoje denunciadas por corrupção, começaram a roubar a Petrobras e desviar dinheiro de obras exatamente com os militares.
Sabe porque você não via isso? porque era proibido fazer denúncias contra os militares.
Porque nós, Emanoel, nós jornalistas, convivíamos com soldados dentro das redações, para que os jornais só dissessem o que os militares achassem que era bom.
Por isso você nunca viu.
E nunca viu, repito: porque também batia continência para os soldados.
Botava a mão no peito para cantar o hino nacional, obrigado, nas escolas, mesmo que seus pais, seus tios, irmãos, primos ou vizinhos tivessem sido “desaparecidos”.
Mas muito lutaram, Emanoel.
Muitos derramaram sangue, muitos morreram para que eu, você, e mesmo aqueles que se calaram diante das atrocidades dos militares, pudessem estar hoje debatendo desta forma, livre, questionando governos, criticando lideranças.
E isso jamais, meu caro, será possível em um governo autoritário, um governo perseguidor, um governo em que as liberdades estarão suspensas.
É disso que falo…