Impressiona que 1/4 da população vire as costas para a Democracia e aprecie a volta de doutrinas autoritárias e privativas de liberdades; mas o fato de essas pessoas estarem expostas – e não mais conspirando nas sombras, nos porões de entidades obscuras – é um remédio para a própria democracia
AO EXPOR À LUZ TIPOS COMO BOLSONARO, a Democracia dá a oportunidade de discutir sua própria história e tirar das sombras fantasmas que ainda aterrorizam
Editorial
O mundo democrático e civilizado tem se assustado com a onda que tomou conta do Brasil nestas eleições. Muita, mas muita gente boa – e até instruída – tem aumentado a voz para defender o voto no capitão do Exército Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenção de votos no primeiro turno das eleições.
É preciso estudo sociológico profundo para entender como pode 1/4 da população ativa de um país recém-chegado à Democracia defender ideias antidemocráticas, autoritárias e privativas das liberdades individuais.
A análise das pesquisas qualitativas à disposição apontam, felizmente, ser pouco provável que Bolsonaro consiga seu intento de se eleger; e mesmo que consiga, é mais improvável ainda que consiga implementar uma política do ódio, divisionista, radical e perseguidora.
Mas não deixa de ser assustador que haja cada vez mais gente – já chegam a mais de 1/3 quando a análise é de segundo turno – pregando ideias da ditadura militar como solução para o país.
E é esse o lado bom no fenômeno Bolsonaro.
A presença de um representante do Exército entre os principais candidatos a presidente deu ao país a oportunidade de discutir a sua própria história.
O Brasil teve oito eleições democráticas sucessivas sem, sequer, cogitar a possibilidade da volta do regime militar.
Mas os simpatizantes da ditadura, skin reds e ultranacionalistas não estavam extintos.
Eles estavam ali, conspirando nas sombras, reunindo-se em porões, à espreita, prontos para o ataque à Democracia.
As conspirações políticas dos últimos anos, o jogo de interesses empresariais e a derrubada da classe política fizeram surgir um tipo como Bolsonaro.
Primeiro nas redes sociais, como mero fanfarrão; depois, como opção de poder ao país, coisa que impossível até de ser cogitada há menos de quatro anos, por exemplo.
E esta possibilidade trouxe à luz seus admiradores, de todos as cores, de todas as vertentes: militares, religiosos, conservadores e nacionalistas.
E no campo aberto da Democracia, eles estão mais aparentes, obrigados a expor suas ideias publicamente e a se mostrar, em todo o seu radicalismo.
Para que possam ser derrotados no voto.
E a Democracia, esta jovem senhora de apenas 33 anos anos, vai agradecer em sua, espera-se, longa trajetória…
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