Que importância tem saber, exatamente, o dia da morte de Jesus, já que ocorrida há tantos séculos?
Esta data é importante não por si só, mas por causa de outro fenômeno bíblico, a ressurreição.
Não há, na Bíblia, nenhuma referência ao fato de que Jesus morrera na sexta-feira. As versões mais antigas do Novo Testamento – que servem de referência para as traduções ocidentais – especificam a morte de Jesus “na véspera do Sábado”.
Mas qual a diferença entre Sexta-feira e véspera de Sábado?
É preciso voltar na história para compreender a essência do termo Sábado – ou Shabbat.
Shabbat significa para os Judeus “o dia do descanso”. O primeiro após o sexto dia trabalhado. O dia em que “tudo deve cessar”, na versão da Bíblia de Estudo Almeida.
É exatamente este o detalhe.
Do ponto de vista bíblico, o Sábado dos evangelhos não é exatamente um mero dia da semana, mas o sétimo dia, que pode ser qualquer um, dependendo do dia em que se comece a trabalhar.
Para alguns países ocidentais, o sétimo dia é o Domingo, por que se começa a trabalhar na segunda.
O Shabbat, portanto, seria o domingo e não o sábado do calendário.
Mas há paises em que a segunda-feira é o dia de descanso e a semana de trabalho começa na terça-feira, incluindo sábado e domingo.
Outro detalhe é que, para os Judeus, havia dois tipos de Sábado: um semanal, o sétimo dia, onde se descansava, após seis dias de trabalho, e outro, religioso, que poderia ocorrer a qualquer época da semana, mês ou ano, de acordo com as datas religiosas judaicas.
A morte de Jesus, portanto, não ocorreu, necessariamente, em uma sexta-feira, mas sim na véspera de um dia judaico de descanso (Shabbat), que pode ter sido qualquer um, desde que o sétimo dia após o primeiro trabalhado.
Na análise comparada dos quatro Evangelhos bíblicos – Marcos, Mateus, Lucas e João – há evidências da sequência de dias do calvário de Jesus até sua ressurreição.
Por esta análise, ele morreu na quarta-feira, sendo sepultado no anoitecer; houve o descanso do Shabbat da Páscoa (quinta-feira); as mulheres saíram para comprar aromas para Jesus na sexta-feira; e o descanso tradicional do sétimo dia, o Shabbat semanal, foi o dia da ressurreição.
Jesus ressuscitou no por-do-sol do sábado, quando se encerrava o Shabbat, segundo evidencia a leitura dos evangelhos.
A sexta-feira da Paixão é, portanto, uma mera invenção católica ocidental.
Para ler com eficiência os evangelhos, é preciso referências históricas, culturais e linguísticas.
O resto, é apenas religiosidade emocional desmedida…