Marafolia cada vez mais próximo…

Evento anunciado no São Luís Shopping pela empresa remanescente do grupo que organizava a tradicional micareta na Avenida Litorânea – com os mesmos artistas que se apresentavam à época – é uma espécie de “evento-teste” para o retorno da festa que marcou época e que vem sendo trabalhada nos bastidores do governo desde 2023, como já apontou este blog Marco Aurélio d’Eça em diversos posts

 

Era assim que ficava a Avenida Litorânea durante o Marafolia, com a passagem de trios elétricos com astros do Axé Baiano entre 1995 e 2006

O Estacionamento do São Luís Shopping vai reviver nos dias 16 e 17 de março o tradicional Marafolia, evento que marcou época na Avenida Litorânea, entre os anos 90 e 2000; o show “Vumbora-10 anos”, é uma espécie de evento-teste para o retorno da micareta maranhense, como o próprio release distribuído à imprensa sugere:

– O saudosismo da micareta volta a tomar conta de São Luís nos dias 16 e 17 de março, com a realização do “Vumbora – 10 Anos” no estacionamento do São Luís Shopping. O evento, que reúne grandes nomes do axé como Bell Marques, Durval Lelys, Timbalada, Xanddy Harmonia, Banda Eva e Rafa e Pipo Marques, promete reviver a energia contagiante das micaretas que marcaram época em todo o Maranhão – diz o texto encaminhado à imprensa.

Este blog Marco Aurélio d’Eça vem noticiando desde 2023 que há em curso negociações entre o governo Carlos Brandão (PSB) e os ex-organizadores do Marafolia para a reativação do carnaval fora-de-época em São Luís. (Relembre aqui, aqui, aqui e aqui)

O próprio carnaval do governo Brandão, na Avenida Litorânea, já foi uma prévia do que será o novo Marafolia; a empresa organizadora deste “Vumbora-10 anos”, a 4Mãos, é remanescente do grupo que organizava a micareta maranhense.

Criado a partir de 1994 para fazer frente às micaretas que bombavam no país inteiro, o Marafolia foi o mais forte evento anual maranhense em termos de público e crítica; a festa na praia só foi encerrada a partir de 2007, por decisão do juiz José Jorge Figueiredo dos Anjos, e reafirmada seis anos depois pelo Tribunal de Justiça. (Saiba mais aqui)

Com a comunicação de fatores existentes no governo Brandão, tudo caminha para a reativação do evento:

  • o Grupo Mirante, principal promotor do Marafolia, é o parceiro-master de Brandão – e praticamente o único – na área de divulgação;
  • o chefe da comunicação do governo é ninguém menos que Sérgio Macedo, que foi superintendente da Mirante exatamente na época de ouro do Marafolia;
  • A deputada federal Roseana Sarney – govenadora à época e sócia da Mirante – vem articulando para indicar o novo secretário de Cultura do Maranhão;
  • além disso, a Litorânea hoje tem uma nova extensão, em área com pouca moradia, exatamente onde ocorreu o carnaval do governo;
  • A justificativa da nova avenida pode convencer o TJ-MA, agora sob o comando de aliados dos Brandão e também dos Sarney;
  • sem falar na vontade de setores do próprio governo em reativar a micareta maranhense.

Há, portanto, os elementos prontos para trazer de volta o emblemático evento de carnaval fora-de-época.

É aguardar e conferir…

A morte das escolas de samba em São Luís…

Adiamento do desfile das tradicionais brincadeiras para data bem depois do carnaval representa o sepultamento de uma tradição que, há décadas, já se arrastava, moribunda

 

Símbolo maior do fracasso das escolas de samba, a Turma do Quinto chegou a desistir do desfile em 2023 um dia antes de sua apresentação

Editorial

A Prefeitura de São Luís e os organizadores das escolas de samba da capital maranhense convidam a todos os familiares, parentes e amigos para a cerimônia de sepultamento dessas tradições carnavalescas maranhenses; o cortejo fúnebre se dará nos dias 23 e 24 de fevereiro, na passarela do Anel Viário.

Poderia ser escrito dessa forma o anúncio conjunto feito nesta sexta-feira, 2, do adiamento do desfile das Escolas de Samba de São Luís para quinze dias depois do carnaval; este desfile representará, sem dúvidas, o enterro simbólico deste tipo de brincadeira.

E se há culpados para o definhamento e morte dessas tradições carnavalescas, eles são as próprias escolas.

As escolas de samba maranhenses começaram a morrer quando passaram a se acostumar tão somente ao financiamento público de suas apresentações; viciadas no dinheiro público, essas agremiações perderam a essência artística, deixaram de desenvolver cultura e perderam o encanto para as novas gerações.

A morte já vinha percebida de outros carnavais.

Em 2021, este blog Marco Aurélio d’Eça já havia abordado esse tema, no post “De como as escolas de samba inviabilizaram ‘ajuda carnavalesca’ em São Luís…”.

O adoecimento do carnaval de passarela pode ser diagnosticado com pelo menos duas causas mortis principais, que há décadas contagiaram as escolas:

  • Desinteresse das diretorias com o calendário anual de festas que pudesse atrair público durante todo o ano para seus barracões e arrecadar fundos para a produção do desfile;
  • montagem de carros alegóricos e fantasias a toque-de-caixa, sem rigor técnico e artístico que atraísse patrocínios, e produções que se mostravam bizarras durante as apresentações, espantando o público.

E essas infecções independem do jorrar ou não de dinheiro público.

Quando escolas tradicionais como a Turma do Quinto deixam de se apresentar no desfile tradicional por falta de dinheiro, como ocorreu em 2023, isso reflete exatamente a falta de organização do carnaval; é inconcebível que um bairro como a Madre Deus, sede da TQ e berço da cultura ludovicense, não consiga produzir um calendário anual que possa atrair simpatizantes e dinheiro para a escola.

Se os diretores das escolas de samba – eles mesmos os autores da brilhante ideia de adiar o desfile – justificam não ter público durante o carnaval, o que os faz pensar que este público irá ver essa coisa que eles chamam de desfile em data nada a ver com o carnaval?!?

Para o poder público – prefeitura, Governo do Estado, secretarias e institutos – pouco importa se o desfile ocorra nos dias momescos, no São João ou no Natal; mas são as escolas deveriam valorizar sua própria cultura.

E elas preferiram transformar seu desfile em um cortejo fúnebre…