O avanço de forças políticas retrógradas – com apoio de setores ultraconservadores, militares e religiosos – estão levando o Brasil a uma era de obscurantismo em que as massas manipuláveis servem de estopim para a boçalidade
Editorial
Não há dúvidas de que o Brasil avançou sistematicamente em termos sociais, comportamentais e de costumes nas últimas duas décadas, melhorando não apenas a qualidade de vida de todas as camadas da população, mas trazendo também uma perspectiva de modernidade e civilização ao país.
Mas, infelizmente, a história não se faz de forma retilínea, mas com “soluços” e espasmos de progressão e retrocessos.
E a partir de 2019, o país entrou em uma nova era de retrocesso e obscurantismo, pondo em risco todas as conquistas dos últimos 20 anos em que se saiu das cavernas para a civilização moderna, com respeito às diferenças e diversidade intelectual, cultural, de gênero, de raça, de condição e identidade.
A ação do prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella – um bispo da famigerada Igreja Universal do Reino de Deus – é o símbolo dessa era retrógrada, que vem ocupando cada vez mais a agenda de debates públicos no Brasil.
O pior é que, hoje, após ascensão da extrema direita ao poder no país – com apoio de militares ultraconservadores, religiosos fundamentalistas e burgueses tradicionalistas – essas ações como a de Crivella encontram cada vez mais eco na população.
Discutir a apreensão de uma revista em quadrinhos em que um casal homoafetivo se beija é voltar à idade das cavernas.
O curioso que se vê nas redes sociais e grupos de troca de mensagens é que os defensores da “moral e dos bons costumes” que esperneiam contra um beijo gay são os mesmos que demonstram absoluta indiferença com a profusão de imagens de sexo explícito em que a mulher é posta como mero objeto.
Em outras palavras: para esses incautos manipuláveis a cena erótica só “afronta a família tradicional” quando protagonizada por dois homens – ou duas mulheres; Se a cena tem caráter heterossexual, ah, isso pode.
A desculpa é sempre a mesma: “é a tentativa de manipular as crianças”.
E os que pregam contra são o mesmos que estimulam filhos menores a “pegar todas mulheres” possíveis.
A união civil homoafetiva não é apenas um direito do cidadão, mas também um aspecto da lei brasileira, que deve ser respeitada em toda a sua essência.
Felizmente, como tudo na história, essa era obscura também passará no Brasil…
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