Em meio à repercussão sobre a ameaça de encerramento do processo, blog ouviu especialista, que apontou questões não explicadas da concorrência que vai escolher os novos operadores do setor na capital
Após a grande repercussão envolvendo a licitação do transporte público de São Luis, este Blog conversou com o técnico Mauro Marques, do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (SET/São Luís).
– A Licitação é muito aguardada pelos empresários. Todos, sem exceção, querem legalizar o negócio, até para que ele tenha valor de mercado. As linhas de ônibus não tem valor algum, pois a qualquer momento outra empresa pode vencer a licitação e ficar com o serviço. O que está sendo discutido não é a concorrência em si, mas sim as falhas no Edital de Licitação – ponderou Marques.
No encontro com o titular do blog, o técnico debateu, de forma embasada, alguns pontos cruciais do Edital de Licitação de São Luis, que está, segundo o técnico, “repleto de erros gravíssimos, que viciam o Edital, de tal forma que é praticamente impossível que não haja algum questionamento na justiça por parte de algum empresário que se sinta prejudicado”.
Abaixo, os principais pontos questionados pelo especialista do SET:
- Uma semana para adequar a Idade Média de Frota
Segundo Mauro Marques, é tecnicamente impossível adequar a frota em 7 dias, já que os ônibus não são vendidos a pronta entrega.
– Se o empresário for adquirir novos ônibus, primeiro se compra o chassi, se manda para a fábrica (carroceria) para então o veículo ficar pronto. Este processo demanda de 4 a 6 meses. Como fazer em 1 semana? Se a compra for de semi-novos (que não é o que a população de São Luis espera), como revisar o carro, consertar batidas, pintar nas cores exigidas por São Luis e trazer, rodando na estrada, em 1 semana? A licitação favorece quem já possui estes veículos, e isto é terminantemente proibido pela Lei Federal 8.666/93 – enfatizou Marques.
- Apenas 1 mês para ter os Articulados em Operação
De acordo com ele, trata-se do mesmo problema enfrentado na questão dos ônibus comuns.
– Utilizando os mesmos princípios do veículo convencional (comprar chassi, mandar para a fábrica de carrocerias, revisar o veículo e trazer para São Luis), como comprar cinco articulados no padrão de São Luis em 1 mês? Mais uma vez, só funciona para quem já possui estes veículos em posse – afirma Mauro Marques.
- Operação dos Terminais de Integração
A empresa que elaborou o Edital exigiu que as empresas que vencerem a licitação operem os Terminais de Integração.
Mas um detalhe importante não foi informado, segundo o técnico do sindicato: “De onde vem o recurso para esta administração? Quanto é o custo mensal de manutenção, segurança patrimonial, folha de funcionários? É uma falha gravíssima não informar estes dados no Edital e em seus anexos, o que ocorreu no Edital de São Luis”.
- Frota Reserva fora dos Padrões Nacionais
– Quem entende o básico de um sistema de transporte, sabe que somente 10% da frota é utilizada como “Frota Reserva”, ou seja, se uma empresa opera com 100 ônibus, deve ter mais 10 para ser a reserva operacional – explica Mauro Marques.
O especialista questiona o fato de o edital exigir, em cada lote, quatro ônibus articulado operando e um quinto, de reserva, na garagem.
– Isto é um absurdo, considerando que um veículo destes que vale quase R$ 1 milhão não pode ser comprado para ficar estacionado, de reserva. Isto foi uma falha de planejamento sem tamanho – pontua o técnico.
- As mesmas linhas que existem hoje
Uma licitação deste porte é uma oportunidade única para consertar erros de gestões passadas, segundo avalia Mauro Marques, do Sindicato das Empresas de Transporte. Mas, segundo ele, a empresa que recebeu para elaborar o Edital não se preocupou com isso.
– É incrível como a empresa que fez o edital – e que deve ter recebido uma boa quantia em dinheiro da prefeitura – não fez mudança alguma, mantendo TODAS as linhas do jeito que estão, com linhas sobrepostas, linhas que existem no papel mas não são operadas há meses – revela Marques.
O especialista do SET afirma haver dezenas de ilegalidades contrariando as Leis Municipais no Edital da licitação, algumas até constitucionais, pontua.
– A licitação tem que ocorrer, mas dentro de uma legalidade, e prevendo o retorno aos investimentos, sob o risco do empresário investir milhões, não ter o retorno e quebrar, dentro do sistema já licitado. A elaboração de um edital é uma responsabilidade gigantesca, e, infelizmente, este Edital não está à altura de uma cidade como São Luis – concluiu.