O mito bíblico da ressurreição conta que Jesus de Nazaré, depois de morto na cruz, foi levado para uma sepultura cedida por “um homem rico de Arimatéia”. Após três dias de sepultamento, ressuscitou no domingo de Páscoa e subiu aos céus.
Antes, porém, teria sido visto por algumas mulheres e aparecido a alguns discípulos. E só.
Imprecisos, os evangelhos que contam a “história” de Jesus não dão mais detalhes. Mas a história da ressurreição ganhou o mundo ocidental nos dois mil anos seguintes.
Primeiro por influência do Império Romano, que via na “seita” crescente, uma forma de controlar politicamente os povos rebeldes. Depois, por influência da Igreja Católica, que ganhou o mundo fazendo acordos com reis e imperadores. O rei chancelava a doutrina da Igreja e a Igreja “divinizava” os reis diante do povo.
Há algumas impossibilidades históricas no relato de Marcos – copiado depois por Lucas e por um certo Mateus, que muitos acreditam ser o discípulo, mas não é.
Não há testemunhas oculares da ressurreição de Jesus. Há apenas declarações de que “alguém viu”.
É tipo assim: alguém disse que alguém disse que foi assim.
Marcos, por exemplo, não conheceu a Jesus. Escreveu seu evangelho 40 anos depois que o nazareno havia sido crucificado. O que ele conta – depois copiado com alterações por Lucas e Mateus – foi baseado em relatos de pessoas, que teriam convivido com pessoas, que conheceram a Jesus.
Há um detalhe histórico no Evangelho de Marcos que a igreja – católica e evangélica – tenta manter despercebido pelos bilhões de fiéis no mundo: os antigos manuscritos do evangelista têm 16 capítulos, sendo que o 16° capítulo vai do 1° ao 8° versículo. Mas a Bíblia ocidental, usada em todas as igrejas cristãs no mundo traz os versículos 9° a 20°. Ou seja, um acréscimo feito entre os anos 200 e 300 da era cristã. Detalhe: os versículos acrescentados posteriormente à história de Jesus escrita por Marcos são justamente aqueles que tratam da ressurreição.
Josh MacDowell e Russel Shedd, dois dos mais respeitados teólogos evangélicos do mundo, têm estudos sobre o assunto.
A “Bíblia de Estudo Shedd”, inclusive, é uma das referências de escolas dominicais e missas carismáticas no mundo inteiro. Em seus comentários, o autor detalha a inclusão dos acréscimos. Mas os “crentes” não lêem e os pastores não estimulam essa leitura, obviamente.
Mesmo ignorando os acréscimos, ainda assim Marcos comete algumas impropriedades com a história – de caso pensado ou não.
É consenso entre especialistas, hoje, a história da crucificação. É consenso, também entre historiadores o destino dos crucificados. Juan Arias, jornalista e vaticanista, autor de “Jesus, este grande desconhecido”, diz que a crucificação era reservada pelos romanos aos crimes de Blasfêmia. O mesmo crime, nas leis dos Judeus, era punido com apedrejamento.
John Dominnic Crossan, biblicista da Universidade Jerusalém, autor de ” Jesus Histórico”, argumenta que o julgamento durava semanas, e ao acusado havia o direito de protelar, com testemunhas.
Jack Miles escreveu “Jesus – Uma crise na vida de Deus” e “Deus, uma biografia” – este último vencedor do Pulitzer de 1996. Ele pondera que “a ressurreição foi uma doutrina inventada por Paulo” para reorganizar os cristãos, que estavam divididos em várias seitas.
Tanto Arias quanto Crossan e Miles fecham num ponto: a condenação na cruz era uma espécie de crime capital. O crucificado não tinha sequer o direito de ser enterrado. Segundo Crossan, a família de um crucificado, quanto mais pobre fosse, caso da de Jesus, mas dificuldade tinha retirá-loda cruz. O corpo teria que apodrecer no madeiro, “para servir de alimento a cães e urubus”.
A ressurreição de Jesus é base da doutrina cristã no mundo ocidental.
É comum pastores evangélicos, e muitos padres carismáticos, proferirem sermões exaltando Jesus em relação a Buda, Maomé, e outros ícones religiosos. Nestes sermões, dizem que, “diferente de Buda, de Maomé, cujos corpos estão sepultados, ninguém vê o corpo de Cristo, porque ele ressuscitou”.
Têm razão os líderes religiosos. O corpo de Cristo não está no Santo Sepulcro.
Simplesmente porque ele nunca foi levado para lá…