Deputado conduz há pelo menos um mês todo o debate político em plenário, tira do sério o Palácio dos Leões, e leva parlamentares de todos os coturnos e matizes ideológicos a tentar fazer frente às suas revelações, numa clara demonstração de que seus pronunciamentos incomodam fortemente a cúpula do governo
Análise da Notícia
Parece até uma procissão política.
Deputados do alto e do baixo clero na Assembleia Legislativa têm se alternado na tribuna do Plenário Nagib Haickel há pelo menos um mês, com uma inglória missão: contrapor o deputado Othelino Neto (Solidariedade) e seus contundentes discursos contra o governo Carlos Brandão (PSD).
Orientados ou não pelo Palácio dos Leões, por lá já passaram – além do líder do governo Neto Evangelista (União Brasil) – parlamentares do quilate de Cláudio Cunha (PL), Ricardo Arruda (MDB), Yglésio Moyses (PRTB), Mical Damasceno (PSD), Ana do Gás (PCdoB), Ariston Gonçalo (PSB), Rildo Amaral (PP), Francisco Nagib (PSB), Davi Brandão (PSB), Jota Pinto, Rafael (PSB) Zé Inácio (PT) e até quem nada deveria ter a ver com isso, como os pedetistas Osmar Filho e Glalbert Cutrim.
A estes dois, juntamente com Neto Evangelista, o deputado neo-oposicionista guardou um dos momentos mais memoráveis deste período, registrado no vídeo que ilustra este post:
Deputado Osmar, deputado Glalbert, tem uma coisa que vossas excelências não carregam e que eu, infelizmente carrego: vossas excelências não votaram no governador Brandão. Vocês estão livres desse peso. Eu sou cobrado todo dia nas minhas redes sociais. Quando eu faço crítica, perguntam: ‘mas você não votou?!? Votei! Errei, eu não tenho bola de cristal’. Mas eu tenho coragem de dizer: se eu não estou concordando eu não vou ficar lá. Mas vossas excelências têm essa vantagem sobre mim, os dois e o deputado Neto Evangelista”, provocou Othelino.
Além dos discursos, as falas dos parlamentares ganham eco na mídia alinhada ao Palácio, na tentativa de enquadrar o neo-oposicionista, como foram os casos de Zé Inácio, Antonio Pereira e Yglésio.
O deputado do Solidariedade não é o único oposicionista na Assembleia Legislativa; Wellington do Curso (Novo) e Fernando Braide (PSD) dividem com ele esta missão.
Mas, de alguma forma – não se sabe se por causa da própria relação com Brandão ou mesmo pelas questões internas da Assembleia – ele tem incomodado como poucos na história recente do Legislativo; prova disso é a procissão de parlamentares quase diária tentando explicar o que ele apresenta na tribuna.
O titular deste blog Marco Aurélio d’Eça cobre as atividades da Assembleia desde 1997, curiosamente, ao substituir o próprio Othelino Neto como repórter de Política do extinto jornal o EstadoMaranhão; nestes 27 anos, pelo plenário que hoje homenageia o lendário Nagib Haickel passaram inúmeros oposicionistas de peso, muitos tão solitários quanto o atual.
- o deputado Aderson Lago, por exemplo, tirou o sono da então governadora Roseana Sarney (MDB) entre 1995 e 2002;
- no governo José Reinaldo – e depois no de Jackson Lago – tinha-se o erudito César Pires, que calava a Casa quando na tribuna;
No terceiro e quarto mandatos de Roseana – entre 2009 e 2014 – a oposição já era mais fluída, com vários grupos disputando o poder político no estado; e a partir do governo Flávio Dino (PCdoB), em 2015, essa parcela política foi praticamente engolida na Assembleia.
Todos os oposicionistas da era deste blog Marco Aurélio d’Eça tinham uma característica comum:
- Aderson Lago tinha uma espécie de proteção política do então presidente da Alema, Manoel Ribeiro;
- César Pires contava com a ainda poderosa e organizada estrutura de poder do grupo Sarney.
Apesar da estrutura que conseguiu obter a partir de 2022, com a mulher, Ana Paula Lobato (PDT), no Senado Federal, e o controle de uma legenda de peso, o Solidariedade, Othelino também é mais um dos lobos solitários da histórica oposição maranhense.
E para o bem do registro jornalístico, tem mantido o charme reservado a eles…