Adiamento do desfile das tradicionais brincadeiras para data bem depois do carnaval representa o sepultamento de uma tradição que, há décadas, já se arrastava, moribunda
Símbolo maior do fracasso das escolas de samba, a Turma do Quinto chegou a desistir do desfile em 2023 um dia antes de sua apresentação
Editorial
A Prefeitura de São Luís e os organizadores das escolas de samba da capital maranhense convidam a todos os familiares, parentes e amigos para a cerimônia de sepultamento dessas tradições carnavalescas maranhenses; o cortejo fúnebre se dará nos dias 23 e 24 de fevereiro, na passarela do Anel Viário.
Poderia ser escrito dessa forma o anúncio conjunto feito nesta sexta-feira, 2, do adiamento do desfile das Escolas de Samba de São Luís para quinze dias depois do carnaval; este desfile representará, sem dúvidas, o enterro simbólico deste tipo de brincadeira.
E se há culpados para o definhamento e morte dessas tradições carnavalescas, eles são as próprias escolas.
As escolas de samba maranhenses começaram a morrer quando passaram a se acostumar tão somente ao financiamento público de suas apresentações; viciadas no dinheiro público, essas agremiações perderam a essência artística, deixaram de desenvolver cultura e perderam o encanto para as novas gerações.
A morte já vinha percebida de outros carnavais.
Em 2021, este blog Marco Aurélio d’Eça já havia abordado esse tema, no post “De como as escolas de samba inviabilizaram ‘ajuda carnavalesca’ em São Luís…”.
O adoecimento do carnaval de passarela pode ser diagnosticado com pelo menos duas causas mortis principais, que há décadas contagiaram as escolas:
- Desinteresse das diretorias com o calendário anual de festas que pudesse atrair público durante todo o ano para seus barracões e arrecadar fundos para a produção do desfile;
- montagem de carros alegóricos e fantasias a toque-de-caixa, sem rigor técnico e artístico que atraísse patrocínios, e produções que se mostravam bizarras durante as apresentações, espantando o público.
E essas infecções independem do jorrar ou não de dinheiro público.
Quando escolas tradicionais como a Turma do Quinto deixam de se apresentar no desfile tradicional por falta de dinheiro, como ocorreu em 2023, isso reflete exatamente a falta de organização do carnaval; é inconcebível que um bairro como a Madre Deus, sede da TQ e berço da cultura ludovicense, não consiga produzir um calendário anual que possa atrair simpatizantes e dinheiro para a escola.
Se os diretores das escolas de samba – eles mesmos os autores da brilhante ideia de adiar o desfile – justificam não ter público durante o carnaval, o que os faz pensar que este público irá ver essa coisa que eles chamam de desfile em data nada a ver com o carnaval?!?
Para o poder público – prefeitura, Governo do Estado, secretarias e institutos – pouco importa se o desfile ocorra nos dias momescos, no São João ou no Natal; mas são as escolas deveriam valorizar sua própria cultura.
E elas preferiram transformar seu desfile em um cortejo fúnebre…
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