Dez anos depois de ver o candidato da filha derrotado pelo grupo que tinha o atual governador na chapa encabeçada por Flávio Dino, ex-presidente da República fala de uma “paz política” que beneficiou abertamente o sarneysismo; o que mudou no Maranhão nesta década do chamado pós-Sarney?!?
Análise da Notícia
Em 10 anos de história, o ex-presidente José Sarney foi de “líder oligarca dos rincões do Brasil” a “estadista ainda influente na política brasileira”.
Essa mudança de paradigma foi destacada por ele próprio nesta quinta-feira, 6, em ato com repercussão adequadamente construída na mídia alinhada ao Palácio dos Leões somente neste sábado, 8. (Veja aqui, aqui e aqui)
Quero parabenizar o governador Brandão pelo trabalho que vem fazendo. O primeiro de todos eles: é de ter pacificado o estado. Estado em clima de paz, estado em clima de tranquilidade, um clima que nós precisávamos. Estamos felizes porque estamos aqui nessa pequena solenidade, mas de grande significado”, disse o ex-presidente.
Sarney fala de cátedra.
Maior líder político da história do Maranhão, único maranhense com força e prestígio no Brasil em mais de 50 anos, José Sarney era visto até 2014 – e mais intensamente a partir de então – como um estorvo da política, que precisava ser vencido para o bem do estado.
Era assim que pensava há uma década o grupo do qual o atual governador Carlos Brandão (PSB) fazia parte:
- Eleito em 2014 numa derrota histórica ao grupo liderado pela então governadora Roseana Sarney (MDB), o comunista Flávio Dino prometeu “varrer o sarneysismo do Maranhão”;
- Em 2018, Flávio Dino derrotou a própria Roseana, também em primeiro turno, mantendo o então tucano Carlos Brandão em sua chapa, que elegeu também os dois senadores.
Mas naquelas circunstâncias, o antisarneysismo de vitrine usado por Flávio Dino já não era tão pujante; afinal, dentre as muitas promessas não cumpridas, o comunista falhou na principal: “tirar todos os municípios do Maranhão do mapa da miséria no Brasil”.
- Em 2022, a chapa que tinha Carlos Brandão como candidato a governador e Flávio Dino ao Senado já estava junta e misturada ao sarneysismo;
- a família do ex-presidente passou a ter forte influência no governo-tampão de Brandão, com controle de setores importantes da gestão;
- buscando lustrar ainda mais sua já brilhante trajetória, o próprio Flávio Dino tratou de busca em Sarney o respaldo histórico-cultural.
Aos 94 anos, festejados com pompa e circunstância em uma Brasília que lhe reverencia desde sempre, o ex-presidente José Sarney está feliz.
Aposentado da política, lúcido e atuante culturalmente, ele vê sua biografia sendo redesenhada pelos mesmos que tentaram destruí-la ao longo de uma década.
E não há “clima de paz” tão grande quanto o de ser reconhecido pelos próprios detratores.
O Maranhão nada mudou nestes últimos dez anos, mas, como afirma Sarney, “está em paz no governo Brandão”.
E o sarneysismo mais ainda…