Uma exegese* de Henry Kissinger…

Ex-secretário de Estado norte-americano, morto nesta quarta-feira, 29, aos 100 anos, foi – para o bem e para o mal – o maior símbolo do imperialismo ianque desde a guerra fria, deixando uma marca de sangue em todo o mundo, sobretudo na América Latina, onde ajudou a derrubar governos legítimos, apoiou ditaduras sanguinárias e influenciou a cultura

 

Henry Kissinger influenciou o Oriente e o Ocidente com sua visão de mundo a partir do olhar dos Estados Unidos

Ele foi o maior símbolo do imperialismo norte-americano, espalhando guerra e paz na medida das dificuldades apresentadas nos relatórios de conquista ianque mundo a fora; nascid0 alemão e naturalizado americano, Henry Kissinger forjou governos na América Latina, impôs-se diante do comunismo soviético e chinês e influenciou a cultura e o comportamento mundial.

Paradoxalmente, o ex-secretário de Estado morto nesta quarta-feira, 29, ganhou um Prêmio Nobel da Paz, pela negociação da saída dos Estados Unidos do Vietnã, após sangrenta guerra, com diversos episódios de execução violentas de civis no Camboja.

Na América Latina, a partir dos anos 70 e 80, apoiou diversas ditaduras; respondeu aos tribunais internacionais pelo apoio a Augusto Pinochet, no Chile, e por governos similares na Argentina.

No Brasil agiu nas sombras, sobretudo influenciando a cultura e o comportamento durante os governos militares.

A revista IstoÉ venceu o prêmio Jabuti de jornalismo no início dos anos 2000 com a reportagem sobre o Relatório Kissinger, a partir de um Memorando Secreto do secretário Henry Kissinger, em 1974, que resultou em milhões de dólares americanos despejados no Brasil para a esterilização em massa de brasileiras.

– A partir daí, generalizou-se a esterilização por ligadura das trompas. Seu principal mérito: era definitiva. Para justificá-la, o Relatório Kissinger insiste em que, nos países pobres, “o rápido crescimento populacional é uma das causas e consequência da pobreza” – contam , em artigo científico as professoras-doutoras Solange Aparecida de Souza Monteiro e Maria Regina Momesso, do programa de Pós-Graduação da Unesp (Leia a íntegra aqui)

Foi  partir deste “projeto de ligação de trompas em massa” que surgiu no Brasil uma aliança entre “missionários” católicos e batistas na Sociedade Civil Bem-Estar Familiar no Brasil, conhecida popularmente por BEMFAM, uma espécie de agência americana para controle de natalidade nos países latinos.

Heinz Alfred Kissinger nasceu em uma família judia de classe média na Baviera em 27 de maio de 1923. Para fugir da perseguição nazista, a família deixou a Alemanha em 1938 e emigrou para os EUA, onde se juntou à comunidade judaica alemã em Nova York.

Em seu livro “Armas Nucleares e Política Externa”, o diplomata americano propõe o uso deste tipo de recurso de forma controlada criando o conceito de “guerra nucelar limitada”, o que lhe rendeu projeção mundial.

– O grande estadista se vê obrigado, em muitas situações, a tomar decisões isoladas, para o bem de seu povo e da nação. A defesa dos valores morais norte americanos, como ensina Kissinger, exige uma postura firme e decidida do governante, o que é a expressão do espírito ocidental, da igualdade de todos perante a lei e da liberdade de todos pela lei – defendem os pesquisadores Rafael Tallarico e Sirley Brito Ribeiro, no livro “Kissinger e a Ética Ocidental”.

No início dos anos 2000, Kissinger previu que o mundo do Século XXI terá seis potências: Estados Unidos, Europa, China, Japão, Rússia – “e provavelmente a Índia”, escreveu],segundo o artigo “Kissinger e a Nova Ordem Mundial”, do Instituto Liberal. (Saiba mais aqui)

Em 2021, o  ranking da Austin Rating, que mede o pdoer das nações pelo tamanho do PIB, lista Estados Unidos (22,8%), China (17,2%), Japão (5,3,), Alemanha (4,5%), França (3,0%) e Reino Unido (3,0%). A Índia, apontada por ele na sexta, está na sétima; e a Rússia é a 10ª

Como se vê, o oráculo americano permaneceu lúcido até a sua morte.

Para o bem e para o mal…

*Exegese é a prática da Hermenêutica, ciência que estuda a interpretação, compreensão e significado de textos e discursos

Marco Aurélio D'Eça