Do alto de sua onipotência, governador foi cometendo um erro atrás do outro a partir de 2018, até chegar às vésperas do processo eleitoral sem sequer saber o que fazer para manter a base unida
Ensaio
O ano era 2019. O governador Flávio Dino (PSB), recém-empossado para o segundo mandato após vencer as eleições em primeiro turno, inicia uma ofensiva de fixação nacional de sua imagem.
Lula estava preso e o PT criminalizado internacionalmente.
O governador apostava que o governo Jair Bolsonaro (sem partido) seria um fracasso; e que a junção das forças democráticas de centro-esquerda – sem o partido do ex-presidente – ganharia a simpatia das ruas.
Aproximando-se cada vez mais de lideranças desse campo, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e de empresários poderosos, como Jorge Paulo Lemmann, da Ambev, Dino, em busca de um espaço nacional, largou o Maranhão para um salve-se-quem-puder entre os aliados.
Foi o primeiro erro do governador.
Lula recuperou os direitos políticos e o PT voltou a ser o maior partido de centro-esquerda, jogando para as cucuias o projeto centro-esquerdista de Dino.
E sem uma liderança para conduzir o processo que desembocaria em sua sucessão, o governador viu os aliados começarem a se movimentar de qualquer forma para se viabilizar como candidatos em 2022.
O resultado foi uma guerra fratricida na própria base durante as eleições municipais.
Era o segundo erro de Flávio Dino.
O governador equivocou-se em um libera geral na base, que lançou diversas candidaturas engalfinhando-se entre si; o segundo turno em São Luís virou um campo de guerra entre aliados, diante da cobrança do próprio Dino e do vice-governador Carlos Brandão (PSDB) para que todos se unissem em torno do deputado Duarte Júnior (PRB), que o próprio Dino havia praticamente expulsado do seu PCdoB.
Derrotado nas eleições de São Luís, Dino passou a culpar alguns aliados e decidiu vingar-se na eleição para presidente da Famem.
O terceiro erro do governador.
Ao deixar o governo às vésperas da eleição entre prefeitos, Dino deu uma espécie de recado à base, de que o nome para a Famem era o prefeito de Caxias, Fábio Gentil (PRB), apoiado por Brandão.
O carismático presidente da entidade, Erlânio Xavier (PDT), venceu a eleição, impondo mais uma derrota ao Palácio dos Leões.
O ano de 2021 começou com a base temporariamente reposta – mas por obra e graça dos próprios aliados, que resolveram levantar um armistício.
Foi então que Dino resolveu impor sua candidatura ao Senado e uma tal carta-compromisso, que deveria, obrigatoriamente, ser cumprida pelo escolhido para ser seu sucessor.
Foi o seu quarto erro.
Ao impor um conjunto de critérios que nem ele mesmo iria levar em consideração, o governador criou ainda mais embaraços em sua base, que já deveria estar livre para a disputa amigável entre si, na base do “que vença o melhor”.
A carta é tão fantasiosa que, após a reunião de julho, surgiram outras duas candidaturas-amigas de Flávio Dino: a do ex-prefeito de São Luís, Edivaldo Júnior (PSD), e a do secretário de Educação, Felipe Camarão (PT).
Diante de todos esses erros, e às vésperas de decidir quem irá apoiar para o governo, o governador só tem ainda uma única garantia: a de que todos estes nomes irão apoiá-lo para o Senado.
Mas sua movimentação – do tipo paquidérmica em loja de louça – pode levá-lo a cometer mais erros até deixar o governo em abril.
O que pode jogar por água abaixo até a unanimidade em torno de si.
Até porque, toda unanimidade é burra…