Edição de 2020 do programa da Rede Globo teve, em confinamento, todos os aspectos registrados diariamente no embate dos estratos sociais de um país racista, machista e patriarcal, mas que começa a rever seus conceitos e preconceitos
Para quem gosta de Sociologia, observa e pesquisa os estratos sociais do Brasil, para quem se encanta com o estudo da sociedade e busca entender e analisar as relações interpessoais, programas como o Big Brother Brasil são um excelente cenário.
Classes sociais confinadas e disputando premiação é terreno fértil para os embates que se vê no dia dia de um país racista, machista e patriarcal, como o Brasil.
É um campo de pesquisa fantástico para aplicar sociologicamente na própria comunidade, com perguntas do tipo:
Por que evangélicos agem assim?
Por que as comunidades suburbanas são o que são?
Como se comportam os gays?
Qual o papel dos pretos e das mulheres?
E das mulheres pretas e pobres?
Essa temporada do BBB, suas nuances e debates do que está em discussão na própria sociedade, é um campo empírico de rico valor sociopolítico.
A partir de reações de “machos escrotos” – como Petrix, Prior e Lucas – de “feministas brancas”, como Marcela, ou mais equilibradas, como a Manu, se traça perfis que levam até mesmo a saber, com certa precisão, o vencedor de cada edição, baseado no tema escolhido pela Globo, subliminarmente, para ser posto em discussão no programa.
E o debate de raça – e, dentro dele, o embate de gênero – foi o tema escolhido para 2020.
Por isso foi fácil entender que a negra Thelma, formada em Medicina, alcançou a vitória, diante de um discurso tácito sobre o papel do negro, do pobre, da mulher pobre e da mulher negra e pobre na sociedade.
E no Brasil há diferenças claras entre ser pobre, ser preto, ser mulher pobre, ser mulher preta e ser mulher pobre e preta.
Num país cheio de desigualdades, machista e patriarcal, é óbvio que um preto macho, como Babu, ganhará sempre mais espaço que uma mulher preta, como a Thelma.
Isso ficou claro até à etapa final quando a sororidade de Thelma em relação às colegas brancas foi vista como submissão de negra, enquanto a aliança de Babu com os machos brancos foi tolerada como estratégica, ainda que o machos em questão – Prior e Lucas – fossem tão estúpidos quanto Hadson, Petrix e sua dança troglodita, símbolo do machismo exposto nesta edição. (Veja o vídeo)
A dança do acasalamento de Pertrix virou símbolo da boçalidade masculina nas classes sociais médias do Brasil
Felizmente, a expulsão dos “machos escrotos” – um por um, a cada semana de intenso debate sociológico nas redes sociais – mostrou que o Brasil caminha, ainda que capengando, para uma sociedade mais justa, que possa ter equidade nas diferenças e respeito à cor.
A vitória de Thelma é a vitória deste novo Brasil, que a despeito do retrocesso sócio-político de 2018, ainda consegue avançar, unindo mulheres – sempre estimuladas a serem adversárias – e enquadrando homens que ainda pensam ser donos dos destinos familiares.
Uma vitória da raça humana brasileira como um todo…