José Sarney
Todos nós do Maranhão, na semana que passou, fomos tomados de uma grande emoção, com o trabalho excepcional da Secretaria de Segurança, desvendando esse crime hediondo, a cruel execução do jornalista Décio Sá, um dos mais notáveis talentos jornalísticos surgidos em nossa terra nos últimos tempos. Era um repórter da melhor fornada do jornalismo investigativo, tinha a paixão pela notícia e a coragem de divulgá-la, sem medo, sem receio.
Ele foi um exemplo de profissional comprometido com a liberdade de informação, com a consciência de seu dever e do jornalismo que tem como motivação fundamental questionar, discutir, revelar.
E foi um pioneiro – já disse isso – que logo descobriu as potencialidades dos novos meios de comunicação, a força da internet e saiu da rotina de escrever suas matérias no jornal, para estabelecer uma interação com o público através do seu blog. Blog que se tornou um fenômeno pelo sucesso alcançado e constatado pelas dezenas de milhares de acesso.
Sua morte causou comoção estadual e nacional, suscitando em todos nós a ansiedade pela busca e captura dos responsáveis, os culpados. Tal sentimento me fez muitas vezes ser injusto com o secretário Aluísio Mendes, do qual cobrava resultados das investigações quase diariamente. Ele, entretanto, seguro, me tranqüilizava: “Estamos desenvolvendo um trabalho altamente profissional, científico em torno de um crime complexo, de encomenda, feito por profissional, vamos alcançá-lo”. E assim foi. Mobilizou várias equipes de delegados, agentes e técnicos que levantaram cuidadosamente as pistas, analisaram, trabalharam em silêncio, sem vazamentos. Uma ação técnica e científica levada a cabo por equipes de inteligência qualificadas. Foram mais de 10 mil cruzamentos de telefones, identificando os nomes de seus usuários que tinham utilizado celulares na noite do crime. O meticuloso retrato falado feito pelos melhores técnicos da Policia Federal combinou-se com intercâmbio de informações entre as policias de diversos estados e com a utilização do banco de impressões digitais.
Foi um trabalho extremamente competente. Lembremos que o assassinato de jornalista Tim Lopes, da Rede Globo, levou dois anos para ser descoberto. Agora, neste ano foram mortos quatro jornalistas no país – e o único crime descoberto e resolvido foi o do Décio Sá.
É inacreditável que a alma humana ainda possa ter sicários do nível dos que nos levaram o Décio. Um facínora de mais de 40 mortes e um banco de contraventores e agiotas que julgavam que a impunidade existia. Como bem disse a governadora Roseana “aqui não é lugar para bandidos e vamos caçá-los e puni-los com todo rigor”. Ela no seu primeiro governo desmontou a quadrilha de roubo de carro e agora vai desmontar essa.
A prisão do assassino e dos mandantes sem dúvida nos conforta. A justiça será feita, mas nada resgata a vida preciosa e brilhante de um homem de talento, lutador da notícia e que fará imensa falta ao jornalismo do Maranhão: DÉCIO SÁ.
Transcrito de O EstadoMaranhão